quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Depressão, antidepressivos, etc.

“Prozac makes my cells spiky” (o prozac faz meus neurônios faiscarem) é um artigo do blog Neuroskeptic de 15 de novembro de 2008. Explora o debate sobre a interação estresse/neurogênese/antidepressivos, faz uma revisão relâmpago da literatura e acrescenta conclusões pertinentes. O neurocético do título do blog é um neurocientista inglês que sabe do que está falando, escreve lucidamente e os leitores leigos entendem tudo. Os leitores da profissão só têm a lucrar com o acesso a novos artigos e novas abordagens.Um trecho, a partir do início:

“Muitos neurocientistas estão interessados na depressão clínica e nos antidepressivos. Ainda estamos longe de entender a depressão em nível biológico – e se alguém tentar te dizer o contrário, provavelmente estará querendo te vender alguma coisa. Discuti anteriormente as controvérsias que cercam o neurotransmissor serotonina – de acordo com a crença popular, a ‘química da felicidade’ do cérebro. Minha conclusão foi que, apesar da depressão clínica não ser causada apenas por ‘baixa de serotonina’, esta desempenha importante papel no humor, pelo menos em algumas pessoas.

Um estudo publicado recentemente em Molecular Psychiatry faz diversas contribuições importantes para a literatura sobre depressão e antidepressivos; não vi o assunto discutido em outro lugar, então aqui vai minha versão dele. O estudo é de um grupo de pesquisadores portugueses, Bessa et al., e chama-se The mood-improving actions of antidepressants do not depend on neurogenesis but are associated with neuronal remodeling. Os achados estão já no título, mas um pouco de história é necessário para que possamos apreciar sua importância.

Por longo tempo, a única teoria biológica que tentou explicar a depressão clínica e como os antidepressivos a combatem foi a hipótese da monoamina. Durante o início da década de 1960, notou-se que drogas antidepressivas antigas, como a imipramina, inibiam a decomposição (breakdown) ou a remoção (reuptake) de substâncias químicas do cérebro chamadas monoaminas, incluindo a serotonina. Isso levou muitos a concluir que os antidepressivos melhoram o humor aumentando os níveis de monoamina, e que a depressão provavelmente é causada por algum tipo de deficiência de monoamina, Por várias razões (nem todas elas boas), mais tarde decidiu-se que a serotonina era a monoamina mais importante envolvida no humor, apesar da maioria das pessoas, por muitos anos, favorecerem a noradrenalina”.

Depois de muitas outras considerações interessantes, o neurocético encerra o artigo: “Finalmente, não quero sugerir que a teoria da neurogênese da depressão está ‘morta’ hoje. Em neurociência, as teorias nunca vivem ou morrem com base em experimentos isolados (à diferença do que ocorre em física). Mas sugere-se que a hipótese da neurogênese, muito discutida em diversos blogs, não é a história completa. A depressão não é apenas um caso de muito pouca serotonina, e não é o caso de muito pouca neurogênese nem de muito pouco BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro)”. Leia o restante em http://neuroskeptic.blogspot.com/2008/11/prozac-made-my-cells-spiky.html Para o original: J M Bessa, D Ferreira, I Melo, F Marques, J J Cerqueira, J A Palha, O F X Almeida, N Sousa (2008). The mood-improving actions of antidepressants do not depend on neurogenesis but are associated with neuronal remodeling Molecular Psychiatry DOI: 10.1038/mp.2008.119 (Esse link abre para o abstract/resumo do estudo).