domingo, 30 de maio de 2010

Vivendo e Aprendendo com Adam Phillips


Adam Phillips dirigiu (trabalhou lá 17 anos. CLM) o Serviço de Psicoterapia Infantil do Hospital de Charing Cross, em Londres. Psicanalista e ensaísta de renome, publicou vários livros, de entre os quais se destacam Winnicott, On Kissing, Tickling and Being Bored, On Flirtation, Terrors and Experts, Promises, Promises (que inclui um ensaio sobre Fernando Pessoa, «Pessoa’s Appearances»), e Going Sane. Escreve regularmente na London Review of Books, no Observer e no The New York Times. É o coordenador da nova edição de Freud na colecção Modern Classics da Penguin.


A propósito de fazer uma crítica do livro de Alexander Waugh, Phillips escreve excelente artigo sobre Wittgenstein:
Self-Made Aristocrats
Adam Phillips
The House of Wittgenstein: A Family at War by Alexander Waugh
Bloomsbury, 366 pp, £20.00, September 2008

E temos também seu artigaço sobre Freud e a psicanálise:
Bored with Sex?
Adam Phillips
London Review of Books , Vol. 25 No. 5 · 6 March 2003

Leia também um pequeno resumo de suas 'reclamações' sobre nossa cultura ocidental:
As dez denúncias do psicanalista Adam Phillips
Sábado, 17 de abril de 2010, de Teófilo Júnior

Yes, ele é o psicanalista e escritor inglês que procura ensinar seus semelhantes a enxergar a realidade desse vale de lágrimas (ou será 'mundo cruel'?) e ficar pianinho. Sua 'filosofia' é bastante parecida com o ideário dos Estóicos (os filósofos gregos e romanos, não o pessoal das filas do SUS e assemelhados): veja o livro do grande A. A. Long que postei hoje para acompanhar essa matéria sobre Phillips, porque é um pitéu por si mesmo, um livro notável por sua erudição sem afetações e altíssima legibilidade. Vou traduzir uns trechos esparsos do artigo de Stuart Jeffries (no Guardian) sobre Phillips para abrir o apetite dos leitores, e por isso não se espere continuidade ('fluxo') no texto abaixo. Se v. acha que não sabe inglês, repito o que sempre digo: com aquele inglês de segundo grau e um dicionário pode-se entender uns 90% de tudo, o que já uma taxa de lucro sensacional.

Happiness is always a delusion
Stuart Jeffries
The Guardian, Wednesday 19 July 2006
Quando os editores de Adam Phillips nos Estados Unidos estavam planejando uma edição americana de seu livro Going Sane (mais ou menos 'procurando a sanidade'), eles insistiram em dar-lhe um título mais animador. A idéia, se não o aborreceu, pelo menos o distraiu. "A senhora da editoria me disse: 'Que tal Maps of Happiness?' Achei que ela estava brincando, então retruquei, 'Que tal Maps Against Happiness? E ela disse 'Acho que não. Against (contra) é uma palavra muito negativa'".

O título proposto incomodou porque Phillips é contra guias para a felicidade. "Uma cultura obsecada com felicidade deve estar realmente desesperada, não é mesmo? Senão, por que alguém se incomodaria com a coisa toda?" perguntou o psicanalista, fechando os olhos como faz repetidamente durante uma entrevista, inclinando-se depois para frente e colocando a cabeça entre as mãos. "Torna-se uma preocupação porque existe tanta infelicidade. A idéia de que reiterando bastante a palavra todos nós nos alegraremos é um disparate". (O editor americano ganhou a parada, e o livro recebeu o subtítulo de Maps of Happiness).

Mas o conteúdo do livro leva o leitor para longe da destinação enganosa da felicidade. Este sempre foi o objetivo de Phillips enquanto cartógrafo da psique humana. Por exemplo, ele escreveu em seu maravilhoso Darwin's Worm: "As fantasias tirânicas de nossa própria perfectibilidade estão à espreita em nossos ideais mais simples, indicam Darwin e Freud, de modo que que qualquer ideal se torna outra desculpa para punição. Vidas dominadas por ideais impossíveis, honestidade completa, conhecimento absoluto, felicidade perfeita e amor eterno são experimentadas como um fracasso sem fim".

Uma das surpresas para os leitores é que Phillips nunca enuncia seu credo. Frank Kermode expressou o adjetivo 'phillipsiano' para demonstrar o que Lisa Appignanesi chamou de 'um estilo vívido e paradoxal que te leva a pensar que v. pegou uma idéia pela cabeça, para logo descobrir que a está segurando pelo rabo'. Esse estilo levou alguns críticos à exasperação. Carmen Calil o acusou de 'mostrar a arrogância de um homem que ninguém contradiz há muito tempo'.

Aí tivemos Going Sane, no ano passado, cuja parte final pode ser tomada como o mais próximo do que seria uma afirmativa sobre o que é uma boa vida, vinda de Phillips. Ele escreveu: "A sanidade envolve aprender a apreciar o conflito, e desistir de todos os mitos sobre harmonia, consistência e redenção".

Frequentemente seu tema é o estranho caráter do desejo humano. Não somos apenas máquinas evolutivas. "A psicanálise darwinista envolveria ajudá-lo a se adaptar, encontrar seu nicho e reproduzir-se", diz ele. "A psicanálise freudiana sugere que existe algo além e acima disso. São partes de nós - que não querem viver, que odeiam nossos filhos, que desejam que fracassemos. Freud está dizendo que existe alguma coisa estranha quanto aos seres humanos: eles recalcitram em reconhecer o que supostamente é o projeto deles. Isso me parece bastante persuasivo".

O ceticismo de Phillips sobre a desejabilidade da felicidade humana não é de fachada. Afinal, ele vive em uma sociedade onde o governo nomeou um czar da felicidade e onde a depressão tornou-se tão dispendiosa em termos de dias de trabalho perdidos que são necessários os chamados 'centros de felicidade' que administram cursos de terapia comportamental cognitiva (CBT - cognitive behavioural therapy) para nos levantar o astral e fazer com que os ingleses voltem ao trabalho.

Ele está dizendo que o sofrimento é necessário para a vida examinada (pela terapia)? "Não, o sofrimento não é essencial. É apenas inevitável. Todas as formas de sofrimento são ruins, mas algumas são inevitáveis. Precisamos chegar a termos com elas ou sermos capazes de suportá-las".

Mais um artigo:
That way sanity lies
A psychoanalyst who hates the 'intrusiveness' of therapy, a rigorous sceptic whose brilliant books have tackled despair, disillusionment, boredom and ... tickling. Now, Adam Phillips has turned his focus on the elusive concept of Being Sane. Here, he talks to Sean O'Hagan about the madness at the heart of modern life
Sean O'Hagan
The Observer, Sunday 13 February 2005

Agora, veja um livro de Adam Phillips, em parceria com Leo Bersani, Professor Emeritus de literatura dos séculos 19 e 20, psicanálise e literatura, literatura e artes visuais e crítica cultural da University of California - Berkeley (veja a lista de seus livros em http://french.berkeley.edu/people/detail.php?person=20 )
Intimacies
Leo Bersani & Adam Phillips
University Of Chicago Press 2008 PDF 144 pages 1.07 MB
http://www.megaupload.com/?d=9WY5GZD1
Diz a editoria: Two gifted and highly prolific intellectuals, Leo Bersani and Adam Phillips, here present a fascinating dialogue about the problems and possibilities of human intimacy. Their conversation takes as its point of departure psychoanalysis and its central importance to the modern imagination—though equally important is their shared sense that by misleading us about the importance of self-knowledge and the danger of narcissism, psychoanalysis has failed to realize its most exciting and innovative relational potential.

In pursuit of new forms of intimacy they take up a range of concerns across a variety of contexts. To test the hypothesis that the essence of the analytic exchange is intimate talk without sex, they compare Patrice Leconte’s film about an accountant mistaken for a psychoanalyst, Intimate Strangers, with Henry James’s classic novella The Beast in the Jungle. A discussion of the radical practice of barebacking—unprotected anal sex between gay men—delineates an intimacy that rejects the personal. Even serial killer Jeffrey Dahmer and the Bush administration’s war on terror enter the scene as the conversation turns to the way aggression thrills and gratifies the ego. Finally, in a reading of Socrates’ theory of love from Plato’s Phaedrus, Bersani and Phillips call for a new form of intimacy which they term “impersonal narcissism”: a divestiture of the ego and a recognition of one’s non-psychological potential self in others. This revolutionary way of relating to the world, they contend, could lead to a new human freedom by mitigating the horrifying violence we blithely accept as part of human nature.Charmingly persuasive and daringly provocative, Intimacies is a rare opportunity to listen in on two brilliant thinkers as they explore new ways of thinking about the human psyche.