quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cérebro e Leitura

Esse abstract que traduzi abaixo compõe uma das primeiras postagens que pretendo publicar aqui no CL&M sobre o progresso de nossa compreensão dos processos neurais ligados à leitura. É claro que minha participação nisso tudo - como sempre - é apenas informativa. Escolhi esse artigo porque ele localiza claramente alguns eventos corriqueiros da atividade da leitura, e recomendo que ele seja lido em sua totalidade com bastante cuidado: é interessantíssimo e tem ilustrações referentes a todas as informações que nos são transmitidas.

Abstract: A leitura em voz alta de palavras novas é conseguida através da decodificação fonológica, um processo no qual as regras de conversão grafema-para-fonema são aplicadas para que seja 'soada' a representação falada de uma palavra. Diversos estudos de imagem cerebral (tomografia) examinaram as bases neurais da decodificação fonológica contrastando a leitura de pseudopalavras (não-palavras pronunciáveis) com a de palavras reais. Entretanto, apenas algumas pesquisas examinaram a leitura de pseudopalavras em condições tanto de leitura em voz alta como de leitura silenciosa, parâmetros de tarefa que provavelmente alteram de modo importante a anatomia funcional da decodificação fonológica. Sujeitos participaram de um estudo de fMRI de leitura de pseudopalavras em voz alta, palavras reais em voz alta, pseudopalavras em leitura silenciosa e de palavras reais em leitura silenciosa. Utilizando esse design de dois-por-dois (2x2), nós examinamos os efeitos do tipo de palavra (palavras reais vs. pseudopalavras) e a modalidade de resposta (silenciosa vs. em voz alta) e suas interações. Descobrimos: (1) que quatro regiões invariavelmente estavam ativas ao longo das quatro condições de leitura: a face anterior do giro precentral esquerdo (Área de Brodmann [BA] 6), além de três áreas do interior do córtex occipitotemporal ventral esquerdo; (2) um efeito importante dos tipos de palavras (pseudopalavras - palavras) no giro frontal inferior esquerdo e no sulco intraparietal esquerdo; (3) um efeito importante dos tipos de modalidade de resposta (em voz alta - silenciosa) que incluiu o córtex motor bilateral, o córtex auditivo e o córtex extrastriado; e (4) uma única região extrastriada do hemisfério esquerdo apresentando um efeito de interação de modalidade de resposta por tipo de palavra. Esta região, no córtex fusiforme posterior da BA 19, foi singularmente modulada por diversas exigências de processamento fonológico. Este resultado sugere que quando se lê, as formas das palavras estão sujeitas à análise fonológica no ponto em que são reconhecidas inicialmente como estímulos alfabéticos, e a BA 19 está envolvida no processamento das propriedades fonológicas das palavras.

Hum Brain Mapp 26:81–93, 2005

Phonological Decoding Involves Left Posterior Fusiform Gyrus
Nicole A.E. Dietz, Karen M. Jones, Lynn Gareau, Thomas A. Zeffiro, and Guinevere F. Eden 2005