quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O violino "Opus 58"


Aqui está a tradução de um artigo interessante do Meeting in Music sobre a criação de um tipo especial de madeira para a fabricação de violinos, com o uso de fungos especialmente selecionados. Esse artigo, que necessita seriamente de um trabalho editorial, está reproduzido como é originalmente. A figura à esquerda é do artigo original.

“Será que um violino relativamente barato, produzido com madeira moderna, pode soar como um bom Stradivarius? Aparentemente, sim – se a madeira tiver sido exposta a fungos que causam um tipo de deterioração (reduzindo a densidade da madeira mas deixando as lamellae medianas intactas), como demonstrou Francis Schwarze, do Empa (Swiss Federal Laboratories for Materials Testing and Research).

Aqui está o recente press-release do Empa:

Na 27ª Osnabrücker Baumpflegetage, uma das mais importantes conferências anuais da Alemanha sobre todos os aspectos dos cuidados florestais, o ‘violino biotech’ do pesquisador do Empa Francis Schwarze ousou apresentar-se em um teste cego contra um Stradivarius – e ganhou. Foi um resultado brilhante para o violino do Empa, que é feito de madeira tratada com fungos, contra o instrumento feito pelo próprio grande mestre em 1711.

O dia 1º de setembro de 2009 foi um dia de glória para o cientista do Empa Francis Schwarze e para o lutier suiço Michael Rhonheimer. O violino que eles criaram utilizando madeira tratada com um fungo especialmente selecionado deveria tomar parte em um teste cego contra um instrumento feito em 1711 pelo próprio mestre fabricante de violinos de Cremona, Antonio Stradivarius.

No teste, o famoso violinista britânico Matthew Trusler tocou cinco instrumentos diferentes por trás de uma cortina, para que a platéia não soubesse qual deles estava sendo tocado. Um dos violinos que Trusler tocou foi seu próprio Stradivarius, com valor de dois milhões de dólares. Os outros quatro foram todos feitos por Rhonheimer – dois com madeira tratada com fungos e os outros dois com madeira não tratada. Um juri de peritos, juntamente com os participantes da conferência, julgaram a qualidade do timbre dos violinos. Dos mais de 180 participantes, um número bem grande – 90 pessoas – achou que o timbre do violino ‘Opus 58’, tratado com fungos, era o melhor. O Stradivarius de Trusler tirou segundo lugar, com 39 votos, mas de modo surpreendente, 113 pessoas da platéia acharam que o ‘Opus 58’ era de fato o Stradivarius! O ‘Opus 58’ é feito com a madeira que foi tratada com os fungos por mais tempo, nove meses.

Julgar a qualidade do timbre de um instrumento musical em um teste cego, é claro, é um assunto extremamente subjetivo, já que é uma questão de agradar aos sentidos humanos. Schwarze, o cientista do Empa, está bem ciente disso, e como ele diz: ‘Não existe uma maneira científica inconteste de mensurar a qualidade do timbre’. Portanto, bastante compreensivelmente, ele estava muito nervoso antes do teste. Desde o início do século 19, os violinos feitos por Stradivarius foram comparados em testes cegos a instrumentos feitos por outros, sendo que provavelmente o mais sério desses testes foi aquele organizado pela BBC em 1974. Naquele teste, os mundialmente famosos violinistas Isaac Stern e Pinchas Zukerman, juntamente com o comerciante inglês de violinos Charles Beare, foram desafiados a identificar sem ver o Stradivarius ‘Chaconne’, feito em 1725, um ‘Guarneri del Gesu’ de 1739, um ‘Vuillaume’ de 1846 e um instrumento moderno feito pelo mestre lutier inglês Roland Praill. O resultado esfriou os ânimos: nenhum dos peritos foi capaz de identificar corretamente mais do que dois dos quatro instrumentos, e em realidade dois dos jurados acharam que o violino moderno era o Stradivarius ‘Chaconne’.

Os violinos feitos pelo mestre italiano Antonio Giacomo Stradivarius são considerados de qualidade inigualável até hoje, e os entusiastas estão dispostos a pagar milhões por um exemplar. O próprio Stradivarius nada sabia de fungos que atacam a madeira, mas ele recebeu uma ajuda inesperada da ‘Pequena Idade do Gelo’ que ocorreu de 1645 a 1715. Durante esse período, a Europa Central passou por longos invernos e verões frescos, o que fez com que as árvores crescessem devagar e uniformemente – condições realmente ideais para produzir madeira de excelente qualidade acústica.

Horst Heger, do Osnabrück City Conservatory, está convencido de que o sucesso do ‘violino de fungos’ representa uma revolução no mundo da música clássica. ‘No futuro, mesmo jovens músicos talentosos poderão pagar por um violino com a mesma qualidade tímbrica de um Stradivarius impossivelmente dispendioso’, acredita ele. Em sua opinião, o fator mais importante na determinação do timbre de um violino é a qualidade da madeira utilizada em sua fabricação. Agora, isso foi confirmado pelos resultados do teste cego de Osnabrück. O ataque dos fungos modifica a estrutura celular da madeira, reduzindo sua desnsidade e simultaneamente aumentando sua homogeneidade. Comparado a um instrumento convencional, um violino feito com madeira tratada com fungos tem um som mais cálido, mais redondo’, explica Francis Schwarze”.

Existe também uma pequena reportagem de uma rádio suiça (em inglês)
http://worldradio.ch/wrs/bm~doc/20090901_violinmold.mp3