segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Fernando Pessoa

Ganhei de presente um retrato do original de um poema inédito do Fernandinho (em sua heteronímia de Alberto Caeiro), sem título nem data (mas parece que é de 1937). Vou copiá-lo aqui para o doce de leite dos leitores do CLM.

Gosto do ceu porque não creio que elle seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa numa parte e numa parte acaba
E que agora e antes d'isso ha absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um principio e tem um fim,
E que antes e depois d'isso não havia tempo.
Porque ha de ser isto falso? Falso é fallar de infinitos
Como se soubessemos o que são de os podermos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

(transcrito por Jerónimo Pizarro)