Este é o nome que a revista inglesa The New Scientist atribuiu ao principal assunto de seu número de 23 de julho de 2011: A Questão Existencial. Da p. 27 à p. 46, somos apresentados a praticamente todas as maquinações atuais sobre a materialidade, o decurso e o destino final do universo e da espécie humana. AQUI.
A primeira parte se chama "Por que é que Existe Alguma Coisa e não Coisa Nenhuma?" - repetindo a pergunta que alguém já modernoso colocou na boca dos antigos gregos. A "resposta" dada é insatisfatória porque introduz mais incógnitas do que esclarece o pouco que já se sabe. Mas é um texto cheio de interesse e vitalidade.
A segunda parte indaga se estamos sozinhos no universo, e o texto deixa entrever que jamais saberemos; mas nas entrelinhas vende-se o peixe como se fosse uma questão existencial de suma importância, o que não é.
A terceira parte, "Será que Eu Sou um Holograma?", gasta editoração para não dizer quase nada. Informe-se melhor, se for o caso:
Jacob Bekenstein
Scientific American
Marcus Chown
The New Scientist
Seyed Hadi Anjamrooz
Rafsanjan University of Medical Sciences
Joakim Munkhammar
University of Upsala
A próxima parte chama-se "Por que Eu?", e até que começa bem: "Pense por um instante sobre o momento em que v. nasceu. Onde é que v. estava? Agora pense no futuro, depois de sua morte. Onde v. estará? A resposta brutal é: em lugar nenhum. Sua vida é uma breve incursão na Terra que começou um dia, sem qualquer razão, e que terminará inevitavelmente". Neste momento passageiro surge a consciência, mas Ananthaswamy é um desmancha-prazeres: "Ainda assim, a a idéia de que a consciência parece ser uma propriedade emergente do cérebro pode nos levar a algum lugar. Por exemplo, faz com que as chances de sua consciência existir sejam as mesmas de você ter nascido algum dia, quer dizer, muito pequenas. Pense nisso na próxima vez em que estiver angustiado sobre seu iminente retorno ao nada". O melhor dessa parte é que ficamos conhecendo (para quem ainda não tinha etc. e tal) Anil K. Seth, que escreveu coisas bem interessantes sobre o assunto.
Anil Seth
Cogn Comput (2009) 1:50–63
Anil K. Seth & Bernard J. Baars
Consciousness and Cognition 14 (2005) 140–168
Models of Consciousness
Verbete da Scholarpedia curado por A. K. Seth
Veja na próxima parte: todas as constantes fundamentais do Universo têm o valor correto que torna possível existir vida, e os cientistas chamam isso de argumento da sintonia fina. Entretanto, nem todos concordam.
"Como é que sei que eu existo?" Esta parte não tem o menor rigor explanatório, contentando-se em alinhavar gracinhas existenciais e epistemológicas. A próxima parte, que investiga a possibilidade de existirem outros de mim por aí, também tropeça em várias pedras do caminho. "Nós sabemos que o Universo é mais do isso que está aí. A radiação deixada pelo big bang parece confirmar que o cosmos passou por uma fase efêmera de expansão super-rápida conhecida como inflação. E, de acordo com a inflação, existe efetivamente uma quantidade infinita de Universo lá fora. Assim, nosso Universo se parece com uma bolha e para além dela há um número infinito de outras bolhas que têm uma visão similarmente restrita". Mas nem tudo está perdido: somos informados que as bolhas sucessivas contêm um arranjo um pouquinho diferente de sua matéria, só que o número de arranjos possíveis é finito, e se v. pudesse viajar para longe o suficiente através do nosso Universo observável acabaria topando com um outro Universo idêntico ao nosso nos mínimos detalhes, incluindo você. Peraí! Tem um problema: Max Tegmark, do MIT, fez a conta e revelou que para encontrar essa identidade v. teria que viajar 10^10^28 metros, que corresponde ao número 1 seguido de dez bilhões de bilhões de bilhões de zeros.
"Nossa espécie vai desaparecer?" - pergunta a próxima parte. Depois de listar idas, vindas e probabilidades diversas, Kate Douglas fecha o texto de modo pessimista: "Ainda que não possamos predizer nosso futuro, pode-se dizer uma coisa com certeza: nossa existência é apenas um capricho passageiro". Choro e ranger de dentes...
Vou pular "Serei hoje a mesma pessoa que era ontem?" - mas é bem interessante e pode ser lida com satisfação.
Stephen Battersby escreveu a última parte, chamada "Como terminará tudo?" Diz ele que numa conferência (sobre Cosmologia e Outras Pontas Soltas) ocorrida três semanas depois do Universo ter acabado, o Dr. Adams vangloria-se de que tudo ocorreu exatamente como sua teoria havia predito. Será uma sátira, finalmente? Battersby encerra suas ilações com o único truismo que nos serve: "Talvez a existência nunca se acabe".
Anyways, como postei em 29 de março de 2011: "Aquele que foi, a partir de então não pode não ter sido: daí em diante este misterioso e profundamente obscuro fato de ter vivido é seu viático por toda a eternidade". Portanto, sei que existo. Se eu não existisse, meu psiquiatra não olharia dentro dos meus olhos, dizendo: "Cara, v. é completamente maluco!"