sexta-feira, 10 de abril de 2009

Kant e o Ornitorrinco

Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition (Ensaios sobre Linguagem e Cognição) é o livro que Umberto Eco diz ser uma tentativa de completar sua Semiótica, de 1976, só que ele parece ter se divertido muito mais. A editoria comenta:

“Como sabemos que um gato é um gato? E por que o chamamos de gato? Quanto de nossa percepção das coisas se baseia em habilidade cognitiva, e quanto em recursos linguísticos? Aqui, em seis ensaios notáveis, Umberto Eco explora em profundidade questões de realidade, percepção e experiência. Baseando suas idéias no senso comum, Eco compartilha conosco sua vasta riqueza de conhecimento histórico e literário, abordando assuntos que nos afetam diariamente. A um só tempo filosófico e divertido, Kant e o Ornitorrinco é uma viagem pelo mundo de nossos sentidos contada por um mestre do conhecimento sobre o que é real e o que não é”.

Trecho da Introdução, por Umberto Eco:

“O que tem a ver Kant com o ornitorrinco? Nada. Como veremos a partir das datas, ele não poderia ter nada a ver. E isso deveria ser suficiente para justificar o título e seu uso em um contexto incongruente que soa como um tributo à antiga enciclopédia chinesa de Borges.

Então, sobre o que é esse livro? Ornitorrinco à parte, é sobre gatos, cachorros, ratos e cavalos, mas também sobre cadeiras, pratos, árvores, montanhas e outras coisas que vemos todos os dias, e é sobre as razões pelas quais podemos distinguir um elefante de um tatu (assim como normalmente não confundimos nossa esposa com um chapéu). Este é um formidável problema filosófico que ocupa o pensamento humano de Platão aos cognitivistas de hoje em dia, e um problema que mesmo Kant (como veremos) não só não conseguiu resolver como não conseguiu expresssar em termos satisfatórios. Então você pode imaginar minhas chances.

Por isso é que os ensaios que formam esse livro (escritos em doze meses e escolhidos entre os temas com os quais venho lidando – incluindo alguns materiais não publicados – durante os últimos anos) brotam de um núcleo de preocupações teóricas interconectadas, e mesmo sendo interreferenciais não devem ser lidos como ‘capítulos’ de uma obra com ambições sistemáticas. Ainda que os diversos parágrafos sejam às vezes numerados escrupulosamente em seções e sub-seções, isto é apenas para permitir uma referência cruzada rápida entre um ensaio e outro, sem que este artifício queira necessariamente sugerir qualquer arquitetura básica. E ainda que eu diga muitas coisas nessas páginas, ainda há muitas mais que eu não digo, simplesmente porque minhas idéias não são claras quanto a elas. De fato, gostaria de assumir como meu lema uma citação de Boscoe Pertwee, um escritor do século 18 (desconhecido para mim), que achei no Gregory (1981: 558): ‘Eu costumava ser indeciso, mas agora não tenho tanta certeza’.”


Umberto Eco, Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition 2000 480 pages PDF Em http://depositfiles.com/files/51a3vwx8e