Eu já tinha lido sobre o fenômeno, mas achava que mais uma vez a imprensa estava exagerando para vender mais exemplares (e portanto mais espaço publicitário). Na apotemnofilia, pessoas aparentemente sãs amputam membros perfeitamente normais de seu corpo. Depois de queimar uma ou duas moléculas de ATP condoendo-me do pessoal, esquecia o assunto até o editor de alguma publicação resolver ressuscitá-lo. Eis que surge nos artigos antecipados (Precedings) da Nature um trabalho de pesquisadores da University of California sobre o assunto, onde tudo fica esclarecido. Aqui vai o abstract/resumo dele, que já dá pro gasto. Para quem quer saber mais, há o link para o PDF.
“A questão de como o cérebro humano combina inputs sensoriais dissimilares para elaborar uma imagem corporal unificada sempre despertou interesse. Nós abordamos o assunto estudando uma condição médica incomum chamada apotemnofilia, na qual indivíduos até então normais expressam forte e persistente desejo de amputar um membro específico normal. Nós mostramos aqui, utilizando tomografia funcional – magnetoencefalografia (MEG) – que essa condição se caracteriza por uma ausência de atividade no lobo parietal superior direito (SPL – superior parietal lobe) quando o membro afetado é tocado. Quando este achado é combinado com uma descoberta anterior nossa, de que há um aumento simultâneo na reação dermatológica de condutância (SCR – skin conductance response) ao se tocar o membro afetado, o que reflete uma atividade aumentada do sistema nervoso simpático relacionada ao membro, concluimos que aquilo que tinha sido considerado como uma condição simplesmente psicológica na verdade tem uma base neurológica e é causada por uma falha em representar um ou mais membros no SPL direito. Isto tem a bizarra consequência de que apesar dos afetados poderem sentir o membro em questão ser tocado, ele não está integrado em sua imagem corporal – um desencontro que resulta no desejo do membro afetado ser amputado”.
Apotemnophilia – the Neurological Basis of a ‘Psychological’ Disorder PDF (196.5 KB)
Paul D. McGeoch1, David J. Brang1, Tao Song2, Roland R. Lee2, Mingxiong Huang2, & Vilayanur S. Ramachandran1
1. Center for Brain and Cognition, University of California, San Diego
2. Department of Radiology, University of California, San Diego