quinta-feira, 28 de julho de 2011

Raymond Tallis



Undiscovered
Raymond Tallis
First published in New Humanist July 8, 2011

Tallis, nesse artigo, está discutindo em pequena escala as questões de seu novo livro, de junho de 2011: Aping Mankind: Neuromania, Darwinitis and the Misrepresentation of Humanity, editado pela Acumen, "a critique which exposes the exaggerated claims made for the ability of neuroscience and evolutionary theory to explain human consciousness, behaviour, culture and society". Veja AQUI o que ele andou fazendo nos últimos 40 anos.

Durante muitas décadas venho argumentando contra o que chamo de biologismo. É a idéia, atualmente dominante nos círculos do humanismo secular, de que os humanos são essencialmente animais (ou pelo menos bem mais animalescos do que se pensava até então) e de que precisamos nos valer das ciências biológicas, e apenas delas, para progredir no entendimento da natureza humana. Como resultado de minha crítica dessa posição, fui acusado de ser um cartesiano dualista que considera que a mente é algum tipo de fantasma no maquinário do cérebro. Pior, sugeriu-se que me oponho ao darwinismo, à neurociência ou mesmo à própria ciência. E o pior de tudo é que alguns sugeriram que eu tenho planos ocultos de fundo religioso. Fique registrado que considero a neurociência (que era minha própria área de pesquisa) como um dos grandes monumentos do intelecto humano; acho que o dualismo cartesiano é uma causa perdida; e acredito que a teoria de Darwin é sustentada por evidências esmagadoras. Nem tenho planos baseados em religião: sou um humanista ateu. E, de fato, esta é a razão pela qual observei com tanto desânimo o crescimento do biologismo: ele é uma consequência da disseminada suposição de que a única alternativa para uma compreensão sobrenatural dos seres humanos é um entendimento estritamente naturalista que nos veja apenas como outro tipo de animal e, em última análise, sendo agentes menos conscientes do que peças de matéria alinhavadas no mundo material.

Fazer essa suposição é subestimar demais a humanidade, pois considero que somos muito mais do que chimpanzés com aptidões especiais. A análise de qualquer momento corriqueiro da vida humana revela conhecimentos, habilidades, emoções, intuições e um senso de passado e futuro, além da percepção de um mundo infinitamente complexo, que não se encontram em outros espécimens do mundo vivo.

O biologismo tem duas correntes: a "Neuromania" e a "Darwinite". A neuromania surge por acreditarmos que a consciência humana é idêntica à atividade neural de certas partes do cérebro. A partir daí (supõe-se) que a melhor maneira de investigar o que realmente são os seres humanos, de entender as origens de nossas crenças, de nossas predisposições, de nossa moralidade e mesmo de nossos prazeres estéticos será observar os cérebros humanos utilizando as últimas tecnologias tomográficas. Assim, saberemos o que está acontecendo realmente quando temos experiências, quando pensamos pensamentos, sentimos emoções, relembramos lembranças, tomamos decisões, somos sábios ou tolos, transgredimos a lei, nos apixonamos, e assim por diante.

A outra corrente é a darwinite, enraizada na crença de que a teoria da evolução não só explica a origem da espécie H. sapiens - o que ela faz, claro - mas também explica os humanos como são hoje; (na crença de que) as pessoas, no fundo, são os organismos forjados pelos processos da seleção natural, e nada mais.


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