sábado, 11 de abril de 2009

The Conscious Mind

A série “Philosophy of Mind”, da Oxford University Press, é editada por Owen Flanagan (Duke University). David J. Chalmers é responsável pelo melhor livro, A Mente Consciente: Em busca de uma teoria fundamental. O livro é de 1996, mas pelo conteúdo da introdução (ver trecho abaixo) percebe-se que a problemática continua quase sem solucionática.

“Introdução. Levando a consciência a sério

A consciência é o maior dos mistérios. Ela pode ser o maior e mais notável obstáculo em nossa procura por uma compreensão científica do universo. A ciência da física ainda não está completa, mas é bem compreendida; a ciência da biologia já removeu muitos mistérios antigos que cercavam a natureza da vida. Há lacunas em nosso entendimento desses campos, mas eles não parecem ser intratáveis. Nós fazemos uma idéia do que parece ser a solução para esses problemas; só precisamos acertar os detalhes.

Mesmo na ciência da mente, muito progresso já foi feito. Trabalhos recentes em ciência cognitiva e neurociência estão nos levando a uma melhor compreensão do comportamento humano e dos processos que o dirigem. Não temos muitas teorias detalhadas da cognição, é certo, mas os detalhes não podem estar muito distantes. A consciência, entretanto, continua tão desconcertante como sempre foi. Ainda nos parece totalmente misterioso como a causalidade do comportamento se faz acompanhar de uma vida interior subjetiva.

Temos boas razões para acreditar que a consciência surge de sistemas físicos como os cérebros, mas fazemos pouca idéia de como ela surge, ou porque existe, afinal. Como é que um sistema físico como o cérebro poderia ser também um experienciador (experiencer)? Por que deveria haver algo que parece ser tal sistema? As atuais teorias científicas mal tocam em questões realmente difíceis sobre a consciência. Não nos falta apenas uma teoria detalhada; estamos totalmente no escuro sobre como a consciência se encaixa na ordem natural”.

The Conscious Mind. In Search of a Fundamental Theory.
David J. Chalmers PDF 432 pgs
(e-mail pedro@dodgit.com para a senha e como descompactar)
http://uploading.com/files/7TRUYUZD/The%20Conscious%20Mind%20-%20Owen%20Flanagan.rar.html

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Crianças sem Linguagem

Laurent Danon-Boileau é professor de Linguística Geral e Aquisição de Linguagem da Universidade Paris – V e psicanalista. Pesquisador do CNRS, é responsável pelo grupo Patologia da Linguagem da Criança do Laboratoire d'Etudes sur l'Acquisition et la Pathologie du Langage de l'Enfant -UMR CNRS 8606. Aqui está o texto da editoria sobre seu livro Crianças Sem Linguagem: da Disfasia ao Autismo:

“Os distúrbios da comunicação e da linguagem quase sempre são considerados a partir de um ponto de vista particular – ou psicológico ou neurológico. Danon-Boileau argumenta que trata-se de um erro sério. Ele enfatiza que o problema de uma criança pode ter origem em diversas causas: problemas neurológicos similares aos da afasia, danos cognitivos e distúrbios psicológicos, e sendo assim a interação entre esses elementos precisa ser levada em consideração. Em rigorosos estudos de casos, Danon-Boileau descreve as situações que enfrentou e traça as causas das mudanças na criança, quando ocorrem. Combinando as abordagens linguística, cognitiva e psicanalítica, seu livro fornece uma perspectiva singular sobre os distúrbios de fala e comunicação, e será um livro essencial para fonoaudiólogos, psicólogos do desenvolvimento, especialistas em linguística e todos que desejem refletir seriamente sobre como falamos e como ocorre a comunicação”.

Children without Language: From Dysphasia to Autism, por Laurent Danon-Boileau. Oxford University Press 288 Pages PDF
Em http://depositfiles.com/files/snma2la0z

Kant e o Ornitorrinco

Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition (Ensaios sobre Linguagem e Cognição) é o livro que Umberto Eco diz ser uma tentativa de completar sua Semiótica, de 1976, só que ele parece ter se divertido muito mais. A editoria comenta:

“Como sabemos que um gato é um gato? E por que o chamamos de gato? Quanto de nossa percepção das coisas se baseia em habilidade cognitiva, e quanto em recursos linguísticos? Aqui, em seis ensaios notáveis, Umberto Eco explora em profundidade questões de realidade, percepção e experiência. Baseando suas idéias no senso comum, Eco compartilha conosco sua vasta riqueza de conhecimento histórico e literário, abordando assuntos que nos afetam diariamente. A um só tempo filosófico e divertido, Kant e o Ornitorrinco é uma viagem pelo mundo de nossos sentidos contada por um mestre do conhecimento sobre o que é real e o que não é”.

Trecho da Introdução, por Umberto Eco:

“O que tem a ver Kant com o ornitorrinco? Nada. Como veremos a partir das datas, ele não poderia ter nada a ver. E isso deveria ser suficiente para justificar o título e seu uso em um contexto incongruente que soa como um tributo à antiga enciclopédia chinesa de Borges.

Então, sobre o que é esse livro? Ornitorrinco à parte, é sobre gatos, cachorros, ratos e cavalos, mas também sobre cadeiras, pratos, árvores, montanhas e outras coisas que vemos todos os dias, e é sobre as razões pelas quais podemos distinguir um elefante de um tatu (assim como normalmente não confundimos nossa esposa com um chapéu). Este é um formidável problema filosófico que ocupa o pensamento humano de Platão aos cognitivistas de hoje em dia, e um problema que mesmo Kant (como veremos) não só não conseguiu resolver como não conseguiu expresssar em termos satisfatórios. Então você pode imaginar minhas chances.

Por isso é que os ensaios que formam esse livro (escritos em doze meses e escolhidos entre os temas com os quais venho lidando – incluindo alguns materiais não publicados – durante os últimos anos) brotam de um núcleo de preocupações teóricas interconectadas, e mesmo sendo interreferenciais não devem ser lidos como ‘capítulos’ de uma obra com ambições sistemáticas. Ainda que os diversos parágrafos sejam às vezes numerados escrupulosamente em seções e sub-seções, isto é apenas para permitir uma referência cruzada rápida entre um ensaio e outro, sem que este artifício queira necessariamente sugerir qualquer arquitetura básica. E ainda que eu diga muitas coisas nessas páginas, ainda há muitas mais que eu não digo, simplesmente porque minhas idéias não são claras quanto a elas. De fato, gostaria de assumir como meu lema uma citação de Boscoe Pertwee, um escritor do século 18 (desconhecido para mim), que achei no Gregory (1981: 558): ‘Eu costumava ser indeciso, mas agora não tenho tanta certeza’.”


Umberto Eco, Kant and the Platypus: Essays on Language and Cognition 2000 480 pages PDF Em http://depositfiles.com/files/51a3vwx8e

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A calma dessa gente...

O livro de Hulda Regehr Clark, The Cure for all Diseases (A cura para todas as doenças), é apresentado assim:

“Todas as doenças vêm de duas causas, poluição e parasitas, não importa o tamanho de sua lista de sintomas, da fadiga crônica à infertilidade e aos problemas mentais. A eletricidade pode agora ser usada para matar bactérias, vírus e parasitas em minutos, não dias ou semanas, como requerem os antibióticos. Se v. estiver sofrendo de infecção crônica ou tiver câncer, ou Aids, aprenda a construir o aparelho eletrônico (The Zapper) que vai interromper essas doenças imediatamente. É seguro e sem efeitos colaterais, e não interfere com qualquer tratamento que v. esteja fazendo agora”.

A trapizonga está em http://rapidshare.de/files/18308314/Cure_For_All_Diseases.pdf

Epistemologia em Quantum Philosophy

Roland Omnès é professor emérito de física teórica na faculdade de ciências de Orsay, Université Paris-Sud XI. Nasceu em 1931 e tem formação em matemática, mas seus trabalhos não inteiramente técnicos sempre enfatizam a ligação entre a física e a possibilidade do conhecimento. O livro examinado aqui, Quantum Philosophy (primeira edição: Paris, Gallimard, 1994), trata dessa ligação em grande estilo. Da Grécia antiga aos dias de hoje, Omnès examina em que contextos se desenvolveu a epistemologia corrente.

“Em seu livro de 2004, Converging Realities: Toward a Common Philosophy of Physics and Mathematics (Princeton University Press), Omnès apresenta, em detalhes, sua posição sobre a relação entre matemática e realidade, que ele começou a desenvolver em Quantum Philosophy” (Wikipedia). O texto editorial que apresenta Quantum Philosophy retrata direitinho o que se pode esperar de sua leitura:

“Nesta obra magistral, Roland Omnès nos leva das academias da antiga Grécia aos laboratórios da ciência moderna, à medida que procura reconstruir os fundamentos da filosofia do conhecimento. Um dos maiores físicos quânticos do mundo, Omnès resenha a história e os recentes desenvolvimentos da matemática, da lógica e das ciências físicas para mostrar que os atuais trabalhos em teoria quântica oferecem novas respostas para questões que intrigaram os filósofos durante séculos: O mundo é fundamentalmente inteligível? Todos os eventos são causados? Os objetos têm localizações definitivas? Omnès lida com essas questões através de argumentos vigorosos e uma redação clara e pitoresca, visando não só desenvolver o conhecimento como também esclarecer os leitores que não tenham base formal em ciência ou filosofia.

O livro se inicia com uma descrição ampla e penetrante dos principais desenvolvimentos da ciência e da filosofia do conhecimento da era pré-socrática até o século 19. Omnès então delineia o surgimento, no pensamento moderno, de uma fratura entre nossa visão intuitiva e trivial do mundo e o mundo abstrato e incomprensível – para muitas pessoas – retratado pela física avançada, a matemática e a lógica. Ele argumenta que a fratura ocorreu porque as idéias de Einstein e Bohr, os progressos lógicos de Frege, Russell e Gödel e a necessária matemática do infinito de Cantor e Hilbert não podem ser inteiramente expressados apenas por palavras e imagens. A mecânica quântica teve papel importante nesse desenvolvimento, já que pareceu minar as noções intuitivas de inteligibilidade, localidade e causalidade. Entretanto, Omnès argumenta que o senso comum e a mecânica quântica não são tão incompatíveis como achavam muitas pessoas. De fato, ele apresenta o provocativo argumento de que a abordagem da mecânica quântica através das ‘histórias consistentes’, desenvolvida nos últimos quinze anos, coloca o senso comum (um pouco reavaliado e circunscrito) em uma firme posição filosófica e científica pela primeira vez. Ao fazer isso, ele fornece o que os filósofos procuraram através dos tempos: uma base confiável para o conhecimento humano”.

Roland Omnès "Quantum Philosophy" Princeton University Press 1999 328 pages PDF
http://uploading.com/files/XS0JAYKW/quantum_philosophy.rar.html ou http://www.megaupload.com/?d=ZOULBM1A

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Apotemnofilia

Eu já tinha lido sobre o fenômeno, mas achava que mais uma vez a imprensa estava exagerando para vender mais exemplares (e portanto mais espaço publicitário). Na apotemnofilia, pessoas aparentemente sãs amputam membros perfeitamente normais de seu corpo. Depois de queimar uma ou duas moléculas de ATP condoendo-me do pessoal, esquecia o assunto até o editor de alguma publicação resolver ressuscitá-lo. Eis que surge nos artigos antecipados (Precedings) da Nature um trabalho de pesquisadores da University of California sobre o assunto, onde tudo fica esclarecido. Aqui vai o abstract/resumo dele, que já dá pro gasto. Para quem quer saber mais, há o link para o PDF.

“A questão de como o cérebro humano combina inputs sensoriais dissimilares para elaborar uma imagem corporal unificada sempre despertou interesse. Nós abordamos o assunto estudando uma condição médica incomum chamada apotemnofilia, na qual indivíduos até então normais expressam forte e persistente desejo de amputar um membro específico normal. Nós mostramos aqui, utilizando tomografia funcional – magnetoencefalografia (MEG) – que essa condição se caracteriza por uma ausência de atividade no lobo parietal superior direito (SPL – superior parietal lobe) quando o membro afetado é tocado. Quando este achado é combinado com uma descoberta anterior nossa, de que há um aumento simultâneo na reação dermatológica de condutância (SCR – skin conductance response) ao se tocar o membro afetado, o que reflete uma atividade aumentada do sistema nervoso simpático relacionada ao membro, concluimos que aquilo que tinha sido considerado como uma condição simplesmente psicológica na verdade tem uma base neurológica e é causada por uma falha em representar um ou mais membros no SPL direito. Isto tem a bizarra consequência de que apesar dos afetados poderem sentir o membro em questão ser tocado, ele não está integrado em sua imagem corporal – um desencontro que resulta no desejo do membro afetado ser amputado”.
Apotemnophilia – the Neurological Basis of a ‘Psychological’ Disorder PDF (196.5 KB)
Paul D. McGeoch1, David J. Brang1, Tao Song2, Roland R. Lee2, Mingxiong Huang2, & Vilayanur S. Ramachandran1
1. Center for Brain and Cognition, University of California, San Diego
2. Department of Radiology, University of California, San Diego