sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Haikonen - Cérebros Robóticos

O livro é Robot Brains: Circuits and Systems for Conscious Machines (Cérebros Robóticos: Circuitos e Sistemas para Máquinas Conscientes), de Pentti O. Haikonen, editado pela Wiley-Interscience (2007), 224 pgs. PDF de 3,4 MB. Está em http://depositfiles.com/files/8397011 A editoria comenta: “Haikonen prevê robôs autônomos que percebem e entendem o mundo diretamente, agindo nele de maneira natural parecida com a maneira humana, sem necessidade de programas e de representação numérica de informações. Desenvolvendo funções cognitivas de nível superior através do poder de arquiteturas neuronais artificiais associativas, o autor aborda o problema de máquinas conscientes. Robot Brains delineia com conhecimento de causa uma abordagem sistêmica completa de máquinas cognitivas, oferecendo orientações práticas de projetos para a criação de máquinas criativas autônomas não-numéricas. Detalha tópicos como as partes componentes e os princípios de realização, de modo que diferentes partes podem ser implementadas em hardware ou software. São fornecidos exemplos do mundo real, incluindo exemplos de circuitos e sistemas que poucos livros sobre esse tópico têm fornecido”.

Wlodislaw Duch, do departamento de informática da Universidade Nicolaus Copernicus (Polônia), não concorda: “O que, de acordo com Haikonen, tornará um robô consciente? Resumindo, ele deve se parecer mais com os humanos, deve ser provido de algum tipo de mente, ser auto-motivado e entender emoções e linguagem, usando esta última para uma comunicação natural. Deve ser capaz de reagir de maneira emocional, ser auto-consciente e perceber que seu conteúdo mental é imaterial. Ainda que os filósofos possam objetar que isso tudo ainda não é suficiente, construir tais robôs pode ajudar muito na compreensão dos problemas da consciência humana”. E Duch prossegue: “O livro deve ser interessante para pessoas que trabalham com inteligência computacional e robótica cognitiva, e sem dúvida merece uma leitura cuidadosa. Pesquisadores de neurociência computacional, que frequentemente enfatizam detalhes, também podem se beneficiar com a abordagem integrativa apresentada em Robot Brains. Mas isso resolve o problema? Podemos ler na contracapa do livro: ‘Os métodos apresentados nesse livro têm importantes implicações para a visão computacional, o processamento de sinais, reconhecimento de fala e para outros campos da tecnologia da informação’. Certamente o livro introduz diversos pontos de vista interessantes, mas a prova do pudim está em comê-lo. Nós já sabíamos que memória, controle, linguagem e emoções são importantes, e que os circuitos neurais são a maneira de implementar tudo isso. Nenhuma tecnologia nova foi proposta, nem fornecida nenhuma demonstração de software ou de hardware. Visão, linguagem e cognição no nível humano de competência ainda continuam a ser um grande desafio, e não está claro até onde se pode ir sem detalhadas inspirações a partir do cérebro. Por exemplo, o papel do tronco encefálico ou do complicado sistema de recompensa e motivação precisa ser abordado. No prefácio o autor escreve que ‘é bastante fácil implementar esses princípios à maneira dos programas de computador’. Mas ainda é necessário ver-se como isso é fácil e até onde os métodos descritos no livro podem ser capazes de nos levar a robôs autônomos e conscientes”.

No verbete Machine Consciousness, da Scholarpedia (artigo bem interessante, por sinal), diz Igor Aleksander (2008), do Imperial College (UK): “Investigando sistemas que não robôs, uma substancial contribuição para o estudo da consciência de máquinas foi feita pelo engenheiro finlandês Pennti Haikonen. Ele trabalha para a compania Nokia, em Helsinki, e está desenvolvendo uma abordagem de rede neural para expressar importantes características da consciência, como processos de sinal em uma arquitetura multi-canal (2003). Ele se remete a questões como percepção, visão interior, fala interior e emoções. Em comum com outros que abordam a consciência como um processo de projeto de engenharia, Haikonen chega à conclusão que dada uma decomposição apropriada do conceito em suas partes cognitivas, muitos mistérios serão esclarecidos. Em sua obra recente (2007), Haikonen confirma e aprofunda a noção de que sua estrutura neural leva a uma discussão fundamentada sobre significado e representação. É claro que, com sua abordagem de engenheiro, pode-se adiantar a crítica de que tudo isso aborda apenas o ‘problema fácil’ do funcionamento necessário de substratos para que sejam criadas representações cognitivas, deixando o ‘problema difícil’ desse elo para qualias experienciadas ou sensações intocadas. A principal oposição a seu argumento é a noção ‘virtual’ de que as qualias e as sensações podem ser discutidas enquanto conceitos virtuais que não dependem de elos com os substratos físicos e mesmo assim podem ser abordadas na linguagem dos sistemas informacionais”.

L. Andrew Coward e Tamas O. Gedeon, do departamento de computação da Australian National University, escrevem sobre o modelo de Haikonen em seu artigo Implications of Resource Limitations for a Conscious Machine, Neurocomputing vol. 72, issue 4-6, janeiro de 2009, p. 767-788 (por sinal, um artigo muito bom): “Os problemas com esse modelo são, em primeiro lugar, que ele supõe um conjunto completo de perceptos pré-definidos que não exigem qualquer evolução, a despeito do caráter de novidade da experiência, e em segundo lugar, que não há nenhuma indicação sobre como o sistema pode identificar que os perceptos ‘importantes’ estejam associados a longo prazo através do processo de ensaio”. O item 8.1 do artigo, A Arquitetura Neural de Haikonen, está em geral redigido na mesma veia. Esse mesmo número (vol. 72, issue 4-6) da Neurocomputing tem boa parte de seu conteúdo dedicada a Brain Inspired Cognitive Systems (sistemas cognitivos inspirados no cérebro) e traz 10 artigos correspondentes, e também à Interplay Between Natural and Artificial Computation (interação entre computação natural e artificial), com 16 artigos, além dos (muitos) artigos regulares. Para quem transita nessa área, imperdível.